Estamos protegidos das explosões de raios gama?
Durante alguns segundos por dia, a Terra é bombardeada por raios gama criados a partir de explosões cataclísmicas em galáxias distantes. Estas explosões, semelhantes às supernovas, são conhecidas como ‘explosões de raios gama’ ou GRBs (Gamma Ray Bursts).
Os astrónomos que utilizam o XMM-Newton, o observatório de raios-X da ESA, estão a tentar perceber a causa destas extraordinárias explosões, a partir dos raios-X emitidos durante um dia ou dois após a explosão inicial.
Perigo para a vida?
Contudo, a violência do processo implica a seguinte pergunta: O que acontece ao espaço circundante de uma GRB? Há alguns anos atrás, alguns astrónomos pensavam que uma GRB poderia exterminar toda a vida na sua galáxia anfitriã.
Agora, esta parece ser uma visão pessimista porque as últimas evidências mostram que as GRBs concentram a sua energia em dois pequenos feixes estreitos, tal como um farol pode fazer na Terra, em vez de explodir em todas as direcções como uma bomba.
Isto não significa que as GRBs não sejam perigosas. Algumas teorias sugerem que qualquer objecto apanhado pelo feixe, a uma distância de cerca 200 anos-luz, será vaporizado.
Será que já existiram GRBs na nossa própria galáxia?
Apesar de nenhuma das GRBs recentemente detectadas parecer suficientemente poderosa, os acontecimentos no passado distante constituem outra questão. “Existem bastantes vestígios de supernovas na nossa galáxia, por isso suspeito que, muito provavelmente, existiram também várias GRBs,” disse Norbert Schartel, astrónomo da ESA.
Apesar dos astrónomos ainda não terem detectado uma GRB realmente próxima, eles já poderão ter apanhado as mais distantes. O Integral, o observatório de raios gama da ESA, continua a recolher diariamente dados inestimáveis sobre as GRBs. No ano passado, o XMM-Newton registou o enfraquecimento da pós-luminescência dos raios-X que acompanharam uma GRB.
Quando Schartel e os seus colaboradores analisaram os resultados, descobriram que os raios-X continham as ‘impressões digitais’ do gás que estava incandescente, tal como o equivalente em raios-X a uma faixa de luz de ‘néon’.
Ligação entre as GRBs e as estrelas explosivas
Esta foi a primeira prova clara de que as GRBs estavam ligadas às estrelas explosivas, semelhantes às supernovas. Agora, o XMM-Newton capturou outra pós-luminescência de raios-X que mostra características semelhantes, tornando a ligação mais forte.
Utilizando estes dados e a descoberta de explosões visíveis de algumas GRBs através do Telescópio Espacial Hubble NASA/ESA, os astrónomos poderão ter construído uma imagem de como se dá este acontecimento.
Parece que a explosão da estrela é apenas a primeira fase. A própria GRB é gerada algum tempo depois, mas ainda ninguém sabe se esse tempo se traduz em horas, dias ou mesmo semanas. A GRB ocorre quando o centro da estrela explosiva se transforma num ‘buraco negro’, e os raios-X são libertados à medida que a onda de choque da GRB colide com o gás proveniente da explosão original da estrela.
As GRBs constituem um risco para nós?
Outra questão ainda permanece: Podemos ser vaporizados por uma GRB próxima? A resposta é não. Ainda que sejam detectadas quase diariamente GRBs, disseminadas aleatoriamente através do Universo, é altamente improvável que isso aconteça. Não existem estrelas a menos de 200 anos-luz do nosso Sistema Solar que sejam do tipo destinado a explodir como uma GRB, por isso não esperamos testemunhar um evento desses num futuro próximo!
No entanto, sabemos que os estudos científicos da ESA sobre estes fascinantes – e assustadores – eventos cósmicos irão continuar durante muitos anos.