À procura do ‘verdadeiro’ mundo de água
Os escritores e realizadores de filmes de ficção científica imaginaram um mundo completamente coberto por um oceano. Mas o que aconteceria se realmente existisse um mundo assim? Seria possível a existência de vida nesse mundo e como seria essa vida?
A ESA poderá tornar a ficção científica num facto científico quando encontrar um mundo assim, se as previsões de um grupo de astrónomos europeus se confirmarem. A missão Eddington da ESA, que actualmente se encontra em desenvolvimento, poderá ser a chave.
Na recente conferência “Towards Other Earths” co-patrocinada pela ESA, cerca de 250 dos principais peritos mundiais na detecção de planetas, discutiram a estratégia para encontrar mundos semelhantes à Terra. Alain Léger e os seus colegas do Institut d’Astrophysique Spatiale, em França, descreveram uma nova classe de planetas que podem estar à espera de serem descobertos: os “mundos de água”.
Léger e os colegas prevêem que estes mundos de água contenham cerca de seis vezes a massa da Terra, numa esfera duas vezes maior do que o nosso planeta. Esses mundos possuiriam atmosferas e encontrar-se-iam em órbita à volta da sua estrela mãe, aproximadamente à mesma distância a que a Terra se encontra do Sol. O mais emocionante é a possibilidade da existência de um grande oceano de água que cobriria inteiramente cada mundo com uma profundidade 25 vezes superior à profundidade média dos oceanos na Terra.
Segundo os cálculos, a estrutura interna de um mundo de água consistiria num núcleo metálico com um raio de cerca de 4000 quilómetros. Então, existiria uma região de mantos rochosos que se estenderia até uma altura de 3500 quilómetros acima da superfície do núcleo, coberta por um segundo manto de gelo com uma espessura até 5000 quilómetros. Finalmente, um oceano cobre todo o mundo até uma profundidade de 100 quilómetros, com uma atmosfera acima de tudo isto.
Com um raio duas vezes superior ao da Terra, estes planetas serão facilmente localizados pela nave espacial Eddington, concebida para detectar planetas até metade da dimensão da Terra. “A passagem de um planeta de água em frente de uma estrela, com uma temperatura inferior à do Sol, irá causar um escurecimento da luz estelar de cerca de um por mil. Isto é quase dez vezes superior à mais pequena variação para a qual a Eddington foi concebida para detectar. Por isso, os mundos de água – se existirem – serão facilmente detectáveis pela Eddington,” afirma Fabio Favata, cientista do Projecto Eddington da ESA.
A missão Corot da CNES/ESA, que é mais pequena, missão precursora da Eddington que deverá ser lançada em meados de 2005, também poderá avistá-los se eles se encontrarem suficientemente perto das suas estrelas mãe.
Actualmente, os cientistas interrogam-se se é possível existir vida nesses planetas e como é que ela seria, sobretudo dado que a água constitui um ingrediente primário para a vida na Terra. Embora os mundos de água pareçam ter tudo aquilo que permite a existência de vida, há uma grande incógnita quanto à possibilidade de eles permitirem realmente, antes de mais, que ela inicie.
Uma das principais teorias para a origem da vida é de que esta necessitar de fontes quentes no fundo do oceano, aquecidas por actividade vulcânica tal como as “black smokers” encontradas nos nossos oceanos profundos aqui na Terra. Num mundo de água, contudo, 5000 quilómetros de gelo separam o fundo oceânico de quaisquer eventuais fontes quentes. Por outro lado, ainda pode ser possível uma origem na superfície da água.
Talvez a única forma de descobrir se existe vida nos mundos de água seja estudá-los com a missão Darwin da ESA, destinada a descobrir planetas habitáveis. Quando for lançada em meados de 2014, esta frota de naves espaciais irá procurar sinais indicadores de vida nas atmosferas de todos os planetas, incluindo os mundos de água.