Asteróide Lutetia: um postal do passado
A nave Rosetta da ESA descobriu que o asteróide Lutetia é um corpo primitivo, um resto que sobrou da formação dos planetas do nosso Sistema Solar. Os resultados obtidos depois de a nave ter sobrevoado o asteróide sugerem ainda que o Lutetia tentou formar um núcleo metálico.
A nave passou pela Lutetia a 10 de Julho de 2010, a uma velocidade de 54 mil km/h e a uma distância de apenas 3170 km. Na altura, o asteróide de 130 km de comprimento era o maior alguma vez visitado por uma nave. Desde então os cientistas têm estado a analisar os dados recolhidos durante o breve encontro.
Já tinham sido estudados outros asteróides, mas não eram mais do que fragmentos de corpos que antes tinham tido uma maior dimensão. No entanto, desde o primeiro momento os cientistas aperceberam-se de que o Lutetia poderia ser um corpo mais antigo, um mundo primitivo em miniatura.
![Região do Lutetia observada pela Rosetta](/var/esa/storage/images/esa_multimedia/images/2011/10/lutetia_coverage/9718536-3-eng-GB/Lutetia_coverage_article.jpg)
Depois da análise dos dados estão ainda mais convencidos desta hipótese. Imagens da câmera OSIRIS revelaram que partes da superfície do Lutetia têm à volta de 3,6 mil milhões de anos. Outras partes são jovens, pelos padrões astronómicos, com uns 50 a 80 milhões de anos.
Os astrónomos calculam a idade dos planetas, luas e asteróides sem atmosfera pela contagem das crateras. Cada depressão em forma de taça na superfície é formada por um impacto. Quanto mais velha a superfície, mais impactos terá acumulado. Algumas partes do Lutetia estão pejadas de crateras, o que significa que o asteróide é muito antigo.
Por outro lado, as partes mais jovens do Lutetia são deslizamentos de terras, provavelmente causados pelas vibrações de impactos na vizinhança.
Os detritos resultantes de todos estes impactos espalham-se pela superfície, numa camada de rocha pulverizada com um quilómetro de espessura.
![Projecção polar do asteróide Lutetia](/var/esa/storage/images/esa_multimedia/images/2011/10/lutetia_polar_projection/10157019-2-eng-GB/Lutetia_polar_projection_article.jpg)
Também há rochedos espalhados pela superfície: alguns com 300 a 400 metros de diâmetro, ou cerca de metade da dimensão de Ayers Rock, na Austrália.
Alguns impactos devem ter sido tão fortes que arrancaram pedaços inteiros do Lutetia, esculpindo gradualmente o asteróide até se transformar no amontoado de buracos que é actualmente.
"Nós achamos que o Lutetia não nasceu com este aspecto," diz Holger Sierks, do Max-Planck-Institut für Sonnensystemforschung, em Lindau, Alemanha. "Provavelmente era redondo quando se formou."
O espectómetro VIRTIS da Rosetta descobriu que a composição do Lutetia é surpreendentemente uniforme em todas as regiões observadas.
"É admirável que um objecto deste tamanho consiga acumular na sua superfície marcas de eventos tão espaçados no tempo, sem que se detectem variações na composição da sua superfície" diz Fabrizio Capaccioni, INAF, Roma, Itália.
Isto é apenas o início do mistério.