Cratera Rustaveli em Mercúrio
Ao estudar as rochas dentro de crateras de impacto como esta, Joana S. Oliveira, investigadora da ESA, descobriu que a localização do campo magnético de Mercúrio mudou ao longo do tempo de maneiras surpreendentes.
Assim como a Terra, Mercúrio tem um núcleo metálico líquido, com os movimentos internos a gerar o campo magnético. Na Terra, os nossos polos magnéticos do norte e sul flutuam entre 10 e 60 km por ano, tendo a orientação do campo magnético do nosso planeta invertido mais de 100 vezes no curso dos seus 4,5 mil milhões de anos.
Joana usou dados da missão MESSENGER da NASA, que orbitou Mercúrio entre 2011 e 2015, para tentar entender melhor a história magnética do planeta mais interno. Os resultados do estudo ajudarão as investigações a serem conduzidas pela missão conjunta ESA/JAXA BepiColombo, que está a caminho do planeta, com chegada em 2025.
Os cientistas usam rochas para estudar como os campos magnéticos dos planetas evoluem. Rochas vulcânicas criadas a partir do arrefecimento de lava ou rochas que se fundiram em grandes eventos de impacto são ferramentas particularmente úteis. À medida que as rochas arrefecem, qualquer material magnético contido nelas alinha-se com o campo atual, preservando a direção e a posição do campo magnético do planeta como uma foto no tempo.
Joana e os seus colegas utilizaram observações de naves espaciais de cinco crateras com irregularidades magnéticas. Uma das crateras, denominada Rustaveli e encontrada no hemisfério norte, é mostrada aqui. Suspeitou-se que as crateras se formaram durante um tempo com uma orientação de campo magnético central diferente da atual. Os investigadores modelaram o antigo campo magnético de Mercúrio com base nos dados da cratera para estimar as possíveis localizações dos polos no passado.
Descobriram que estavam longe da posição atual e poderiam ter mudado ao longo do tempo. Esperavam que os polos se agrupassem em dois pontos mais próximos do eixo de rotação de Mercúrio, no norte e sul geográficos do planeta. No entanto, os polos encontravam-se distribuídos aleatoriamente e foram todos encontrados no hemisfério sul. Os polos antigos não se alinham ao atual polo norte magnético ou sul geográfico de Mercúrio, indicando que o campo magnético dipolar do planeta se moveu. Os resultados também sugerem que o planeta pode ter mudado ao longo do seu eixo, num evento denominado verdadeiro passeio polar, onde as localizações geográficas dos polos norte e sul mudam.
Embora não seja incomum o campo de um planeta mudar, os novos resultados reforçam a ideia de que a evolução magnética de Mercúrio foi muito diferente da da Terra. As duas sondas científicas da missão BepiColombo reunirão dados únicos do campo magnético e potencialmente restringirão as conclusões do estudo, além de nos ajudar a colocar em contexto a evolução magnética do nosso próprio planeta.
A nova pesquisa encontra-se publicada no AGU Journal of Geophysical Research.
Leia uma revisão do artigo no blog da AGU.