Sítio J escolhido para a aterragem do Philae
O módulo de aterragem da Rosetta, Philae, irá pousar no local J, uma região intrigante no cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko que oferece um potencial científico único, com sinais de atividade nas proximidades e um risco mínimo para o módulo comparado com os outros locais candidatos.
O local J, na ‘cabeça’ do cometa, um mundo irregular que tem pouco mais de 4 km no seu ponto mais largo. A seleção por este local foi unânime. O local de backup, o C, está localizado no ‘corpo’ do cometa.
O módulo de aterragem de 100 kg aterrará na superfície a 11 de novembro, onde fará medições de profundidade de forma a ser possível caracterizar o núcleo, de uma forma sem precedentes.
Mas escolher o local de aterragem adequado não foi tarefa fácil.
“Como já conseguimos perceber pelas recentes imagens, o cometa é belo mas acidentado – cientificamente excitante, mas a sua forma torna-o num desafio operacional, ” diz o responsável pela aterragem do Philae no Centro Aeroespacial Alemão, DLR.
“Nenhum dos locais candidatos cumpria todos os critérios operacionais, a um 100%, mas o local J é claramente a melhor solução.”
“Faremos a primeira análise in situ de um cometa neste local, dando-nos uma visão sem paralelo da composição, estrutura e evolução de um cometa” diz Jean-Pierre Bibring, cientista de projeto e investigador principal do instrumento CIVA, no IAS em Orsay, França.
“O local J dá-nos a possibilidade de analisar material primitivo, caracterizar as propriedades do núcleo e estudar os processos que dão origem à sua atividade.”
A corrida para encontrar um local de aterragem só poderia ter começado depois da Rosetta ter chegado ao cometa, o que aconteceu a 6 de agosto, quando o cometa foi visto de perto pela primeira vez. A 24 de agosto, usando dados recolhidos pela Rosetta quando esta estava a 100 km do cometa, foram identificadas cinco regiões candidatas, tendo sido analisadas posteriormente.
Desde então, a nave deslocou-se até cerca de 30 km do cometa, permitindo que fossem feitas medições mais detalhadas dos locais candidatos. Em paralelo, as operações e as equipas de dinâmica de voo têm estado a explorar as opções de aterragem em cada um dos cinco locais.
Durante o fim-de-semana, o O Grupo de Seleção do Local de Aterragem composto por engenheiros e cientistas do Centro de Operações e Navegação do Philae da Agência Espacial Francesa, CNES, o Centro de Controlo do Lander na DLR, cientistas que representam instrumentos do Lander e a equipa da Rosetta da ESA encontraram-se no CNES, em Toulouse, França, para analisar os dados disponíveis e escolher o local principal e o seu backup.
Na escolha, foram analisados uma série de aspetos críticos, não só a garantia de uma trajetória segura para a aterragem do Philae, como as características do terreno à volta, que deveria ser o menos acidentado possível. Já no terreno, outros fatores tiveram de ser analisados, incluindo o equilíbrio entre luz do dia/noite e frequência da possibilidade de estabelecer comunicação com a nave.
A descida é passiva e só é possível prever a aterragem numa área elíptica, com cerca de umas centenas de metros.
Foi avaliada uma área de um quilómetro quadrado, para cada local candidato. No local J, a maior parte das encostas têm uma inclinação inferior a 30º, reduzindo a probabilidade de o Philae tombar durante a aterragem. O local J também parece ter poucos pedregulhos, e recebe suficiente luz diurna para recarregar o Philae e continuar as operações científicas na superfície, após o período de funcionamento com baterias.
Uma avaliação inicial da trajetória para o local J permitiu concluir que o tempo de descida do Philae para a superfície seria de cerca de sete horas, uma duração que não compromete as observações no cometa, uma vez que não consome demasiada bateria na descida.
Os locai B e C foram ambos considerados para o backup, mas o C acabou por ser o escolhido por causa da boa iluminação e poucos pedregulhos. Os locais A e I pareciam atrativos durante a primeira ronda de conversação, mas foram eliminados na segunda, porque não cumpriam uma série de critérios essenciais.
Será agora preparada uma cronologia detalhada, de forma a determinar com precisão a trajetória da Rosetta de forma a colocar o Philae no local J. A aterragem tem de acontecer antes de meados de novembro, já que se prevê que o cometa se torne mais ativo à medida que se aproxima do Sol.
“Não há tempo a perder, mas agora que estamos mais perto do cometa, iremos investigar mais o cometa, permitindo-nos melhorar a análise de ambos os locais,” diz o diretor de voo da ESA para a Rosetta, Andrea Accomazzo.
“Claro, não podemos prever a atividade do cometa entre hoje e a aterragem, e no próprio dia da aterragem. Um aumento súbito na atividade poderia afetar a posição da Rosetta na sua órbita no momento da aterragem e por consequência afetar o próprio local da aterragem e é isto que torna esta operação numa operação tão arriscada.”
Depois de abandonar a Rosetta, a descida do Philae será autónoma, com os comandos preparados pelo Centro de Controlo do Lander na DLR e carregados via controle de missão da Rosetta, antes da separação.
Durante a descida, serão feitas imagens bem como outras observações do ambiente do cometa.
Quando o lander poisar no chão, a uma velocidade equivalente à passada, serão usados arpões e parafusos de gelo para o fixar à superfície. Fará depois uma imagem panorâmica, a 360 graus, do local de aterragem para ajudar a determinar onde e em que orientação aconteceu a aterragem.
Começará então a fase científica, com outros instrumentos a analisarem o plasma e o ambiente magnético, e a temperatura à superfície e por baixo. O lander também irá escavar e recolher amostras subterrâneas, enviando-as para o laboratório a bordo, para análise. A estrutura interna do cometa também será explorada pelo envio de ondas de rádio através da superfície em direção à Rosetta.
“Nunca ninguém tentou aterrar num cometa, por isso trata-se de um grande desafio,” diz Fred Jansen, responsável de missão da Rosetta, da ESA. “A complicada estrutura ‘dupla’ do cometa teve um impacto considerável nos riscos relacionados com a aterragem, mas são riscos que vale a pena correr para termos a hipótese de fazer a primeira aterragem planeada num cometa.”
A data da aterragem será confirmada a 26 de setembro, depois de terem sido feitas mais análises à trajetória e a aprovação do local de aterragem seguir-se-á a uma análise final, a 14 de outubro.